Há 30 anos, quando cheguei à altura de escolher a área de formação, não sabia o que escolher. No dia da matrícula para o 10º ano, decidi, com mais dúvidas que certezas.
A minha escola já disponibilizava acompanhamento vocacional que se resumia a uma breve conversa. Em alguns casos, à realização de testes psicotécnicos. Os pais, mais atentos e com maior capacidade financeira, já recorriam a serviços privados de apoio à decisão da vocação a escolher.
Passados 30 anos estamos praticamente na mesma e eu, sinceramente, não entendo que se deixe este acompanhamento tão “no ar”.
É verdade que o mercado de trabalho é muito incerto, o que é hoje, não será amanhã. Há pessoas que argumentam que não devemos intervir. Eu acho que devemos planear e para planear é necessária informação, tratada e experienciada. Só com informação tomamos decisões com o máximo de eficácia possível e o mínimo de incerteza.
Não está em causa definir profissões, mas ajudar a encontrar vocações e competências, àqueles que não as conhecem, ou que têm várias dúvidas.
Enquanto Associações Empresariais deveríamos estar atentos a estes processos.
Percebemos que as empresas há anos que transmitem a mesma queixa, o ensino e a formação profissional não prepara os jovens para o mercado de trabalho. Dizem, saem da escola tarde e ainda é necessário formá-los, além de lhes transmitir noções de autonomia, entusiasmo, flexibilidade, compromisso e resiliência, as chamadas softskills.
Também notamos os preconceitos existentes em relação a muitas profissões, nomeadamente serralheiros, picheleiros, trolhas, carpinteiros, agricultores, eletricistas, carpinteiros, auxiliares de geriatria, técnicos de confeção, etc. Estas profissões, por vezes, ganham mais, as pessoas sentem-se mais úteis, do que outras as ditas profissões “limpas”.
Mas a maioria dos jovens não conhecem, nem umas, nem outras. Nas primeiras há a ideia que são menos glamorosas e mal pagas e as segundas que têm maior “status” e por consequência melhor pagas e com mais condições. Não é verdade, o que dita as condições das profissões é o mercado, a procura e a oferta, felizmente ou infelizmente.
Não há um programa organizado, ou eu não o conheço. Primeiro, que acompanhe e estude o crescimento académico, emotivo, vocacional das crianças desde o jardim de infância.
Segundo, não há um programa preparado que chegue, com tempo, com iniciativas e experiências, testemunhos, que ajude os jovens a perceberem os “jeitos” mais definidos.
Entregamos esta escolha às “modas” e tendências, agora dizem que são as STEAM (ciências,tecnologia,matemáticas..), o ambiente, robótica..
Que jovens queremos, enquanto sociedade, no futuro? Queremos jovens seguros e resistentes ou queremos jovens inseguros e com pouca esperança? Seria ou não interessante, enquanto país, empresas, professores, ter estudantes com maiores certezas do que incertezas quanto às suas competências?
Pergunta, que para mim, parece-me óbvia. Não deveríamos, nós enquanto sociedade olhar para estes momentos de decisão com maior atenção e responsabilidade? Eu penso que sim