Todas as previsões disponíveis apontam para um forte abrandamento da economia portuguesa em 2023, mas a mais recente, da Comissão Europeia, divulgada a meio de fevereiro, reviu em alta o crescimento do PIB nacional este ano para 1%, em termos reais (face a 0,7% em novembro), dentro de um contexto de melhoria dos dados da UE (cuja previsão para a evolução do PIB passou de 0,3% para 0,9%).
Trata-se ainda de um valor de crescimento abaixo do projetado pelo Governo na elaboração do Orçamento de Estado (1,3%), sendo os riscos ainda muito elevados face à grande incerteza provocada pelo contexto de guerra e pelas tensões geopolíticas entre os maiores blocos económicos.
A Envolvente Empresarial de janeiro evidencia sinais de abrandamento claros na parte final de 2002, mas não impedindo que, nesse ano, o PIB tenha crescido ao ritmo mais forte desde 1987 (6,7% em termos reais, segundo a estimativa preliminar do INE, a segunda maior subida na UE, a seguir à Irlanda), a refletir ainda um efeito de recuperação dos impactos da pandemia, com a realização de consumo adiado e um forte contributo da retoma do turismo, beneficiando da imagem de destino seguro e longe do teatro de guerra.
Os dados de conjuntura mais recentes parecem suportar um menor pessimismo, mas terão de ser confirmados. Em janeiro, o indicador de sentimento económico de Portugal recuperou significativamente (para o valor mais alto desde setembro de 2022), após muitos meses seguidos de queda, passando a acompanhar o tom mais positivo no conjunto da UE, onde o indicador melhorou pelo terceiro mês seguido.
A inflação começou a baixar recentemente em Portugal, aliviando um pouco o efeito negativo sobre o poder de compra das famílias e o consumo. A taxa de inflação medida pelo IPC reduziu-se pelo terceiro mês seguido em janeiro, para 8,4%, o valor mais baixo desde maio de 2022. Igualmente importante, a inflação junto do produtor (índice de preços na produção industrial, IPP), que durante bastantes meses esteve muito acima da inflação oficial junto do consumidor, traduzindo uma forte compressão das margens das empresas, tem vindo a reduzir-se mais rapidamente (para 9,9% em janeiro, o valor mais baixo desde junho de 2021), encurtando o diferencial para níveis que já não se observavam desde o início de 2021.
A taxa de desemprego já começou a aumentar no último trimestre de 2022 (a maior subida desde o início da pandemia), o que deverá constituir um sinal de alerta para os problemas das empresas, com impacto na vida de cada vez mais pessoas.
É, por isso fulcral que os fundos do PRR comecem a chegar efetivamente às empresas, com reflexo nos dados de execução relativos aos pagamentos, que estão ainda a níveis muito baixos.
Note-se que a Envolvente Empresarial – Síntese de Conjuntura é uma publicação mensal com os principais dados e indicadores relativos à atividade económica, desenvolvida conjuntamente pela AEP, AIP e CIP. Inclui duas separatas de indicadores, uma para Portugal e outra para a Área Euro.